Este artigo foi publicado originalmente em 17/05/2018
A forma de ensino muitas vezes não inclui exemplos práticos e do dia a dia do aluno, e esta é uma das várias razões que levam os estudantes a não investir muito do tempo para aprender.
Por este motivo, creio que a melhor forma de se ensinar é usando exemplos pessoais/profissionais do próprio aluno e, apesar desse método não ser o mais prático, já que não podemos reutilizar muitos dos exemplos e aulas, o aluno pode aprender de uma forma muito mais clara e simples, sem precisar descobrir sobre o que o problema se trata.
Para exemplificar, vou usar um cenário muito comum em cursos de Ciência da Computação nas universidades: Criar uma classe pessoa, que tenha atributos como CPF. Apesar de ser um exemplo muito simples, para nós que já passamos dessa época, o aluno muitas vezes vai ficar confuso, sem compreender o motivo de ele estar escrevendo aquele código e, o que era para ser um desafio de aprender o conceito, passa a ter um desafio extra, que vem antes da programação: Entender porque fazer aquilo, e no que isso impacta.
Tudo bem que o aluno sabe o que é o cpf, mas há uma probabilidade muito grande dele, com seus recém 18 anos não ter experiência profissional, nem necessidade de usar um cpf. Qual o motivo de se usar um exemplo como esse? Simplificar o exemplo para o professor? Permitir a reutilização deste exemplo? Qualquer que seja a resposta, ela parece sempre auxiliar o professor, ao invés do aluno.
Claro, existem alunos que conseguem compreender essa metodologia de ensino e, para estes, talvez esse exemplo ainda seja a melhor opção. Para os outros, no entando, a barreira é maior. Algumas vezes muito maior.
Com isso em mente, propus um desafio para mim: Ensinar usando exemplos que são claros para os alunos e, sempre que possível, usando exemplos do dia a dia dele.
Começo ensinando como todo mundo faz, com exemplos que são inúteis, e que servem apenas para aquele exemplo. Em seguida, pergunto se os alunos conseguem pensar em alguma forma de usar aquele conceito, e caso necessário, explico novamente como ele funciona. Se não tiver nenhuma resposta, pergunto sobre a vida do aluno, sobre hobbies, trabalho, etc. e vejo onde aquilo pode ser aplicado. Posso usar desde os jogos da hora do lazer, passando por problemas do trabalho e problemas pessoais que possam ser auxiliados com o conteúdo.
Caso algo não possa ser usado como exemplo com os conteúdos até aquela aula, mas podem ser usados em aulas futuras, eu peço para que o aluno anote e guarde com ele esse problema, para que possamos usar ele mais tarde.
Essa prática também deixa o aluno curioso e interessado, pois um problema que ele conseguiu identificar possui uma forma de ser resolvido/melhorado/simplificado.
Até o momento todos os resultados que obtive foram positivos. Mesmo quando o aluno não tem experiência profissional, ou não está empregado, é possível encontrar exemplos que possam ser úteis.
Considere o exemplo da universidade, com a criação de classes: Se o aluno joga vídeo-games, use a criação do personagem para exemplificar (Você pode usar herança para colocar atributos e métodos para cada raça, por exemplo).
Se ele joga jogos de tabuleiro, use a criação de classes com base em cada componente do jogo.
Se ele joga jogos de azar, utilize a criação de classes com cartas/dados (e pode adicionar matemática, estatística e probabilidade também... ), se o aluno gosta de esportes físicos, como futebol, basquete, mma,etc..., utilize classes para colocar os atributos que cada atleta possui. Eu garanto que o brilho no olhar do aluno quando ele consegue montar/criar a solução para o problema é recompensador.
Tudo isso parece muito bom e muito bonito, mas e o professor? Vai ter que ensinar de 40 formas diferentes em cada aula? Não é bem assim. Pela minha (pouca) experiência, posso dizer que a melhor forma é conhecer um pouco de cada aluno. Sabe aquela coisa que os alunos não gostam de fazer na primeira vez que estão na sala de aula? Isso mesmo, se apresentar e falar um pouco de si. Essa conversa no início vai te dar uma idéia sobre como preparar a aula. Comece com um exemplo que você já tem, como a classe pessoa, e depois passe um exemplo relacionado a um dos temas que você observou.
Mas ainda assim, o Professor precisa preparar um monte de exemplos diferentes, não vai? Sim, e isso consome muito tempo, eu sei.
Entretanto, ter mais de uma forma de apresentar o mesmo conteúdo vai deixá-lo mais claro, e com o tempo você passa a ter outras formas de apresentar o conteúdo para o aluno.
Como bônus, você acaba revendo alguns detalhes que podem ter ficado de fora, e aprende sobre novos temas (que nem sempre dominamos).
Não é uma tarefa simples transmitir conhecimento. Mas é gratificante. Estes novos recursos não são criados no decorrer de um ou dois dias, mas são criados com o passar do tempo, e de acordo com a necessidade. Continuarei a "personalizar" os exemplos, exercícios, tarefas, e trabalhos que entrego para os alunos.
Proponho o desafio a todos os professores: Utilizem exemplos que são reais, que são presentes na vida dos alunos, e veja a diferença que faz.